As crianças convivem com a língua oral em diferentes situações de interação social e, por meio desta, aprendem sobre si, sobre os seus pares e sobre a realidade que as cercam. Estão igualmente cercadas de situações nas quais estão presentes as práticas sociais de leitura e escrita, como, por exemplo: escrita de cartas, bilhetes e avisos, leitura de rótulos de embalagens, placas e outdoors, escuta de histórias, poemas e parlendas, dentre outros.
Sabe-se que crianças que estão inseridas em ambientes ricos em experiências de leitura e escrita, não só se motivam para ler e escrever, mas, começam, desde cedo, a refletir sobre os materiais de escrita que circulam socialmente. Em contrapartida, aquelas que têm poucas oportunidades de acesso a estes materiais, apresentam mais dificuldades na apropriação da língua. Negar-lhes a oportunidade e o direito às práticas sociais de leitura e escrita, é, sobretudo, contribuir para manutenção e perpetuação da desigualdade e exclusão social em nosso país.
O trabalho com a diversidade de textos é justificado pela necessidade de os alunos terem oportunidades de acesso a cultura escrita, ampliando as capacidades e as experiências das crianças de modo que elas possam ler e escrever com autonomia.
Segundo Magda Soares, o desenvolvimento de habilidades de uso da tecnologia da escrita, isto é, da apropriação do sistema alfabético e ortográfico, acontece por meio da inserção em práticas sociais que envolvem a leitura e escrita: o letramento.
O letramento tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na sociedade e se amplia cotidianamente por toda vida, com a participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita. Abarca as mais diversas práticas de escrita na sociedade e pode ir desde uma apropriação mínima da escrita, tal como o individuo que é analfabeto, mas letrado na medida em que identifica o valor do dinheiro e o ônibus que deve tomar, consegue fazer cálculos complexos, sabe distinguir marcas de mercadorias etc., porém não escreve cartas, não lê jornal, etc. Se a criança não sabe ler, mas pede que leiam histórias para ela, ou finge estar lendo um livro, se não sabe escrever, mas faz rabiscos dizendo que aquilo é uma carta que escreveu para alguém, é letrada, embora analfabeta, porque conhece e tenta exercer, no limite de suas possibilidades, práticas de leitura e de escrita.
Para tanto, faz necessário que, por meio das práticas alfabetizadoras, contemplem, de maneira articulada e simultânea, os processos de alfabetização e o letramento, ou seja, a apropriação do sistema alfabético e ortográfico e o uso da língua em práticas sociais de leitura e escrita.
Isto implica em substituir as tradicionais e artificiais cartilhas por livros, por revistas, por jornais, enfim, através de situações com diversos gêneros em que se tornem necessárias e significativas práticas de compreensão e produção de textos.
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